Eu não imaginava que um dia eu voltaria a sentir a mesma
sensação de quando colocava os dois pés na quadra pra jogar handebol. Eu devia
ter entre oito e nove anos quando conheci o esporte pela primeira vez. Entrei
na natação querendo ganhar o mundo. Competia com minha irmã pra ver quem tirava
o melhor tempo. Me superei aos poucos, subi de turma três vezes e desisti das
águas geladas em um desses invernos.
Mas, ainda criança, eu voltava pra casa com a sensação de
liberdade e leveza. Mais de 12 anos depois descubro que tudo isso é culpa do
esporte. Dos nove para os dez conheci o vôlei e o handebol, e me arriscava feio
no futsal. Tive professores incríveis, além de amigos que me empurraram e me
ajudaram a passar um pouquinho mais de tempo em quadra.
Quando arremessei a primeira bola de handebol, descobri o
que era extravasar. E parecia que era aquilo que eu iria fazer para o resto da
vida. Mas, mais uma vez, em um desses anos de vestibular, desisti até das aulas
de educação física. O mundo me dizia que a teoria era o mais importante naquele
momento, mas todos os dias eu lamentava o fato de não ter apoio na escola para
crescer no esporte.
Quando aprendi a fintar, no primeiro dia de aula com professor Tim
Maia – não o cantor, o treinador magnífico que, infelizmente, se foi –
machuquei o dedo. Entendi que o esporte tem suas glórias e tristezas. Mas em
todas as vezes que eu entrava em quadra, me envolvia de uma sensação difícil de
explicar. Uma mistura de satisfação com, mais uma vez, leveza. A sensação era
de voar em cada arremesso. E de ultrapassar todas as dificuldades em cada finta
que eu conseguia concluir.
Aos 23 anos não faço mais natação, nem jogo mais handebol.
Passei anos tentando me encontrar novamente na atividade física. Sempre repetia
que era no esporte que eu me satisfazia. Nunca encontrei o momento perfeito pra
voltar para eles. Talvez porque não tivesse mesmo que continuar a nadar ou
estufar a rede. Mas quando eu participei da minha primeira corrida entendi que
o esporte nunca sai da gente.
Sempre amei a sensação que a corrida de rua me
proporcionava. Nada mais pode me abalar quando termino de correr. Sou capaz de
enfrentar tudo o que o meu dia tiver pra me oferecer, seja coisas boas ou
ruins. Quando aceitei o desafio dos primeiros cinco quilômetros, voltei aos
oito, nove anos, quando a professora marcou o meu tempo pela primeira vez na
natação.
Completei a prova e a vontade era de voltar a correr naquele
mesmo instante. Cruzar a linha de chegada foi como roubar a bola e fazer um
contra-ataque sem chances para a goleira, atingindo um impulso que raras vezes tive oportunidade. Concluir a prova foi ouvir o apito da professora de natação,
seguido do relógio marcando meu tempo. Foi um pouco de
superação, porque todo mundo que se aventura em algo novo, se supera.
Foi uma bela redescoberta. Do esporte e do que meu corpo ainda é capaz de me
oferecer. Entendi que até na corrida de rua o esporte é coletivo. Precisamos uns dos outros. As vezes do silêncio, as vezes do incentivo, as vezes só do apoio na hora da dor que, sim, também chega sem avisar. Foi o meu retorno não às quadras, nem à piscina, mas às ruas.
Dani Fechine
Dani Fechine