08 outubro 2014

Hoje seriam 73



Hoje seriam 73. 73 anos de uma beleza graciosa. De uma generosidade infinda. De uma paciência incomparável. De um amor que se multiplicava. De uma paz que fazia reinar. De um chamego que trazia bem querer. De um carinho com jeito de quero mais. De uma mulher com garra, com força e com luta nas veias. Hoje seriam 73 anos de uma senhora que carregou consigo, a vida inteira, o amor, a alegria e o poder de união que talvez nem ela mesma soubesse que possuía. 

Hoje é 8 de outubro e assim como o dia 14, é um momento de lembrança ainda maior. É um dia composto pela ausência e pela recordação. Marcado pelo que já não mais se faz, pelo que já não mais se ver, pelo que não mais se toca, não mais se esbarra, não mais se tem. Mas um dia emocionalmente marcado pelo sentimento: hoje se sente mais que ontem, a saudade abraça mais forte e vem devagarzinho, rasteira, até que gruda no nosso coração. Dias como hoje a gente não necessariamente chora, mas a gente lembra. Sorri com as tantas memórias, mas também se entristece por serem tão boas. 

Saudade é um bicho contraditório. Ela vem por um bom motivo: o amor. E ela fica, atormenta e machuca pela mesma razão. A parte boa e ruim da nostalgia, das memórias, das lembranças e da saudade são frutos de uma mesma flor: o amor. É por isso que não ligo, não me importo, não reclamo. Não bato o pé por sentir saudade. É amor guardado, amor contido, amor nostálgico. Amor que poderia ser mais e por algum motivo foi menos. Amor que poderia se expor e por algum motivo se guardou. Amor que me encheu de orgulho a vida inteira, mas que por algum motivo se conteve. 

Hoje seriam 73, minha vó. E nesse dia marcado pela ausência da rotina, eu te escreveria um cartão bonito, ou até um cartaz colado na porta no teu quarto. Mainha te compraria um presente e nós te daríamos com o maior orgulho do mundo, sabendo de início o quão difícil é/era fazer a senhora gostar de qualquer que fosse. Não importava o pacote, o laço bonito de fita, o cartão com a minha melhor letra. Era o abraço de bom dia que eu queria te dar, era o “obrigada, obrigada, obrigada” que eu gostaria de ouvir, era a tua voz que eu queria ter presente. 

Infelizmente, nós não temos as pessoas para sempre. Infelizmente, as pessoas não vivem para sempre. E também não escolhem o dia que se vão. Não escolhem também se já querem ir, se mais alguns dias é preciso, se ficar seria o mais apropriado. A gente não escolhe quem quer ter pra sempre. Exceto no coração. Eu escolhi levar a minha avó para onde eu for. Eu escolhi torná-la presente em qualquer parte da minha vida, da minha história. Escrevendo eu consigo eternizá-la. Escrevendo eu consigo trazê-la de volta. É escrevendo que eu a sinto cada vez mais perto. Escrever a torna presente. 

Em mais ou menos um mês serão 20. Os meus 20. E, mais uma vez, não serão os mesmos. Não a terei aqui novamente. Não sentirei a data tão importante como eram antes dos 18. A graça se dissipou. A saudade de cada cheiro, voz e toque tomou lugar cativo. Hoje seriam 73. 73 primaveras. 73 carnavais. 73 anos da Fechine mais incrível. E ao invés de 73, hoje temos quase 2 anos. O tempo passa. Os anos correm. E as lembranças parecem rastejar. A saudade cresce. E o amor não muda  e não acaba nunca. 

Dani Fechine

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)