12 agosto 2012

Transformando "ouro" em "orgulho"

Eu queria conseguir escrever a sensação de satisfação, amor, emoção e orgulho. É mais fácil deixar lágrimas cair do que do que tentar definir o que a gente sente quando ganha algo muito bom. Meu amor pelas seleções de vôlei sempre foi imensamente grande. Sempre doeu meu coração só em perder um jogo na TV, sempre dói em mim quando alguém se machuca, quando perdem o jogo, ou quando algo dar errado. Quando o saque vai na rede eu penso forte "no próximo ponto recupera, vamos lá!". Eu nunca penso que não dá mais. Eu acredito na vitória até o apito final. Eu acredito que sempre venceremos. É um amor inexplicável. Inútil para alguns, com certeza, mas de valia enorme pra mim. Porque não há paixão nenhuma que não te traga coisas boas e a admiração que eu sinto por cada jogador e jogadora, e por cada técnico (vale ressaltar que são os melhores do mundo), me faz transformar tudo isso em amor. 
Nessas Olimpíadas foi diferente. Eu só pude confirmar esse sentimento sensacional. No primeiro jogo dos meninos meu coração já foi a mil por hora. Eu não sabia se torcia, se gritava ou se ficava esperando o jogo acabar. Com as meninas, da mesma forma. Há sempre algo que me puxa pra TV. Depois que eu li o livro que Bernardinho escreveu - Transformando Suor em Ouro - eu me encantei ainda mais. Essas últimas semanas foram de pura aflição. Cada jogo difícil para eles e elas eram difíceis pra mim também. Difícil porque ficava incerto. Mas eu nunca cobicei a medalha de ouro. Eu só queria vê-los jogar. Vê-los dar um show, mostrar o que é um jogo de verdade com arte e ousadia. Eu só queria assisti-los, prestigiá-los e homenageá-los com minha emoção. Eu fiz tudo isso. E eu comemorei cada ponto marcado.
Nessas finais eu fui a loucura.
Primeiro veio a final do feminino. A campanha tinha sido boa, vá lá. Mas o primeiro jogo com as vilãs norte-americanas não tinha sido a nosso favor. Perder de 3 sets a 1, com uma muralha na rede, foi difícil superar. Mas algo confortava. Há quatro anos atrás o flashback rolado neste sábado, se iniciava. Brasil e Estados Unidos na final das Olimpíadas. Nós ganhamos. Campeãs olímpicas, com toda garra e força que aquelas guerreiras têm. 2012 era o ano novamente. E quando as meninas entraram em quadra, quando cada nome foi sendo anunciado e o time sendo formado, eu fui me arrepiando completamente, fui sentindo um frio enorme na barriga. Parecia que eu estava na quadra. Foi de um nervosismo inexplicável. E aí eu vi o Brasil perder vergonhosamente no primeiro set, eu vi Sheilla errar todos os seus ataques, vi Thaisa parar na rede, Fabi perder todas as bolas de recepção e vi Jaque errando saque como se nada estivesse em jogo. Mas eu dizia a mim mesma que era apenas ansiedade de uma final dejá vu. E foi. O Brasil mostrou com categoria o que é uma seleção olímpica. Aí sim, o jogo mudou de lado. O Brasil simplesmente destruiu Hooker. Garay conseguiu substituir Paula Pequeno com perfeição. Virou todas as bolas. Dani Lins não mais errou seus toques de levantadora e conseguiu passar a bola perfeita para Sheilla e Jaque fecharem o jogo. Elas deram show. Massacraram com seus sorrisos de satisfação, de quem lutou muito para chegar até alí, sorrisos de cansaço, dor e alegria. E ganharam. Ganharam com a mesma pontuação que haviam perdido na fase eliminatória. Que ironia. E então eu vi Zé Roberto ser tri-campeão olímpico. Vi Fabi chorar com seu bi-campeonato olímpico. Vi o olhar de gratidão de todas as jogadoras e de todas as equipes quando tiveram a atitude belíssima de se ajoelharem e agradecerem a Deus. Eu quis estar lá. Mas eu chorei daqui. Eu nunca vi pódio mais animado que esse. Tirando as caras frias e amarradas das jogadores norte-americanas, eu só vi alegria e respeito. Tudo deu certo. O ouro foi nosso. E o mais importante aconteceu; eu torci até o fim, gritei e chorei até a última bola em quadra, e mesmo derrotadas eu estaria alí, na frente da TV prestigiando toda a premiação. Sigam em frente. Vocês são as melhores do mundo. Valeu Zé Roberto, valeu meninas.
E como se não bastasse minha alegria derramada em lágrimas no sábado a tarde, os melhores do mundo resolveram também pisar em quadra pra disputar mais uma final. Eu não podia imaginar uma derrota. Afinal, o jogo contra a Rússia uma semana antes foi de uma facilidade incrível. O nosso adversário (clássico) das semi-finais, os temidos italianos, foram derrotados com classe. Mas eu estaria pronta pra ver a Rússia jogando com tudo que sabia. Eu estava pronta pra ver o jogo mais difícil das Olimpíadas. Me enganei, em partes. O Brasil jogou seus primeiros minutos como quem realmente tem o melhor do mundo na equipe. Virou bolas espetaculares, bloqueou o mais alto que conseguiu. O indestrutível Mikhaylov parou na rede brasileira e na muralha chamada Serginho. Parecia um jogo fácil. Todos esperavam os três sets a zero. E aí, com um Brasil invencível, o técnico russo foi para o tudo ou nada. Colocou Muserskiy como "ponta" e parecia até uma escolha desesperada. Superou todas as expectativas de Bernardinho e da equipe brasileira. Muserskiy destruiu a rede adversária. O invencível Mikhaylov se tornou pequeno na frente de Muserskiy. A muralha brasileira desmoronou. A experiência de Giba entrou em quadra, mas nem isso adiantou. O nervosismo foi maior que a garra de virar o jogo. A vontade de ser bicampeão para uns e campeão para outros, se juntou a ansiedade de terminar o que já estava escrito e ganho. E foram lá com toda sua sede ao pote.
O Brasil fez o seu melhor. O Brasil foi o seu melhor. O Brasil foi o melhor do mundo. E eu chorei a cada virada da Rússia. Eu derramei milhares de lágrimas a cada set perdido e chorei como quem perdeu alguém querido, quando o apito final soou. Choro de tristeza. Ver Bernardinho chorando na entrega das medalhas, Murilo e Sidão abaixando suas cabeças no pódio, Rodrigão (e outros) se despedindo de um vida inteira imbatível e Bruninho se aguentando para não explodir com sua vontade tão grande de sempre vencer, foi de partir o coração do torcedor. Eu quis estar lá e gritar para todo mundo ouvir que eles ainda são os melhores do mundo e a torcida brasileira jamais abandona. Eu me orgulho de todos eles. Eu me orgulho também dos que não puderam ajudar tanto. Vissotto machucado, mas com sua campanha belíssima e sua vontade enorme de mudar o jogo, e Gustavo, assistindo tudo por uma tela mas torcendo mais do que qualquer outro brasileiro. Eu admiro vocês. Mas o que a gente viu foi um jogaço de empate onde no final alguém tinha que se sobressair. Infelizmente não fomos nós. Mas eu choro daqui e sorriu também, esperando e desejando que chegue o mais rápido possível as Olimpíadas de 2016, porque não importa quem vença, quem perca, quem chore ou sorria. O importante será ver a maioria de vocês novamente, lutando com toda garra e força para conseguir o ouro. E se não conseguirem novamente, eu vou estar aqui pra dizer que TUDO valeu a pena e que pra mim você são os ouros mais importantes para um Brasil como o nosso.

Dani Fechine

Um comentário:

"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)