Nessas Olimpíadas foi diferente. Eu só pude confirmar esse sentimento sensacional. No primeiro jogo dos meninos meu coração já foi a mil por hora. Eu não sabia se torcia, se gritava ou se ficava esperando o jogo acabar. Com as meninas, da mesma forma. Há sempre algo que me puxa pra TV. Depois que eu li o livro que Bernardinho escreveu - Transformando Suor em Ouro - eu me encantei ainda mais. Essas últimas semanas foram de pura aflição. Cada jogo difícil para eles e elas eram difíceis pra mim também. Difícil porque ficava incerto. Mas eu nunca cobicei a medalha de ouro. Eu só queria vê-los jogar. Vê-los dar um show, mostrar o que é um jogo de verdade com arte e ousadia. Eu só queria assisti-los, prestigiá-los e homenageá-los com minha emoção. Eu fiz tudo isso. E eu comemorei cada ponto marcado.
Nessas finais eu fui a loucura.
Primeiro veio a final do feminino. A campanha tinha sido boa, vá lá. Mas o primeiro jogo com as vilãs norte-americanas não tinha sido a nosso favor. Perder de 3 sets a 1, com uma muralha na rede, foi difícil superar. Mas algo confortava. Há quatro anos atrás o flashback rolado neste sábado, se iniciava. Brasil e Estados Unidos na final das Olimpíadas. Nós ganhamos. Campeãs olímpicas, com toda garra e força que aquelas guerreiras têm. 2012 era o ano novamente. E quando as meninas entraram em quadra, quando cada nome foi sendo anunciado e o time sendo formado, eu fui me arrepiando completamente, fui sentindo um frio enorme na barriga. Parecia que eu estava na quadra. Foi de um nervosismo inexplicável. E aí eu vi o Brasil perder vergonhosamente no primeiro set, eu vi Sheilla errar todos os seus ataques, vi Thaisa parar na rede, Fabi perder todas as bolas de recepção e vi Jaque errando saque como se nada estivesse em jogo. Mas eu dizia a mim mesma que era apenas ansiedade de uma final dejá vu. E foi. O Brasil mostrou com categoria o que é uma seleção olímpica. Aí sim, o jogo mudou de lado. O Brasil simplesmente destruiu Hooker. Garay conseguiu substituir Paula Pequeno com perfeição. Virou todas as bolas. Dani Lins não mais errou seus toques de levantadora e conseguiu passar a bola perfeita para Sheilla e Jaque fecharem o jogo. Elas deram show. Massacraram com seus sorrisos de satisfação, de quem lutou muito para chegar até alí, sorrisos de cansaço, dor e alegria. E ganharam. Ganharam com a mesma pontuação que haviam perdido na fase eliminatória. Que ironia. E então eu vi Zé Roberto ser tri-campeão olímpico. Vi Fabi chorar com seu bi-campeonato olímpico. Vi o olhar de gratidão de todas as jogadoras e de todas as equipes quando tiveram a atitude belíssima de se ajoelharem e agradecerem a Deus. Eu quis estar lá. Mas eu chorei daqui. Eu nunca vi pódio mais animado que esse. Tirando as caras frias e amarradas das jogadores norte-americanas, eu só vi alegria e respeito. Tudo deu certo. O ouro foi nosso. E o mais importante aconteceu; eu torci até o fim, gritei e chorei até a última bola em quadra, e mesmo derrotadas eu estaria alí, na frente da TV prestigiando toda a premiação. Sigam em frente. Vocês são as melhores do mundo. Valeu Zé Roberto, valeu meninas.
E como se não bastasse minha alegria derramada em lágrimas no sábado a tarde, os melhores do mundo resolveram também pisar em quadra pra disputar mais uma final. Eu não podia imaginar uma derrota. Afinal, o jogo contra a Rússia uma semana antes foi de uma facilidade incrível. O nosso adversário (clássico) das semi-finais, os temidos italianos, foram derrotados com classe. Mas eu estaria pronta pra ver a Rússia jogando com tudo que sabia. Eu estava pronta pra ver o jogo mais difícil das Olimpíadas. Me enganei, em partes. O Brasil jogou seus primeiros minutos como quem realmente tem o melhor do mundo na equipe. Virou bolas espetaculares, bloqueou o mais alto que conseguiu. O indestrutível Mikhaylov parou na rede brasileira e na muralha chamada Serginho. Parecia um jogo fácil. Todos esperavam os três sets a zero. E aí, com um Brasil invencível, o técnico russo foi para o tudo ou nada. Colocou Muserskiy como "ponta" e parecia até uma escolha desesperada. Superou todas as expectativas de Bernardinho e da equipe brasileira. Muserskiy destruiu a rede adversária. O invencível Mikhaylov se tornou pequeno na frente de Muserskiy. A muralha brasileira desmoronou. A experiência de Giba entrou em quadra, mas nem isso adiantou. O nervosismo foi maior que a garra de virar o jogo. A vontade de ser bicampeão para uns e campeão para outros, se juntou a ansiedade de terminar o que já estava escrito e ganho. E foram lá com toda sua sede ao pote.
Dani Fechine
Como sempre, arrazou!
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