25 novembro 2013

"Pra sonhar"

Era domingo. O vento tinha o peso e a suavidade suficientes para não esvoaçar os penteados e para espalhar amor aos infinitos lugares daquele campo. O Sol nunca acordou tão brilhante e sorridente. Iluminava uma manhã que me parecia inesquecível, desde o momento em que ela começou a existir em pensamento. A primavera anunciava flores lindas nas copas das árvores. O colorido da manhã ficou por conta dos beija-flores e dos jasmins próximos ao lago. A grama verde me fazia lembrar a saudade que eu estava dos seus olhos fixados aos meus. Esse mundo inteiro que transbordava num olhar.

Eu não dormi. E você, sem dúvida, saberia disso. A cama de solteiro da casa dos meus pais não me fazia falta alguma. Não lembro quem inventou essa ideia de só nos vermos no altar, mas desde já, que fique claro, foi a pior ideia que já existiu. Detestei não ter seus braços enrolados nos meus e não sentir o cheiro dos seus cabelos. Meu quarto só cheirava ao Bob, aquele cachorro sarnento que minha mãe insiste em tratá-lo como um terceiro filho. Acordei. Graças a Deus. Tomei o banho mais relaxante da minha vida, numa ansiedade infinda pra te ver. Olhava-me no espelho enquanto me arrumava. O terno branco me favoreceu tanto quanto você falou que sim e, naquele momento, eu imaginei o quanto você ficaria feliz ao ajustar a minha gravata, naquela expressão de que o último toque necessariamente tem que ser seu. Eu estava prestes a subir no altar (ou o que quer que estivesse no fim do tapete). Aliás, nós estávamos.

Nunca vi lugar mais lindo. Os candeeiros que espalharam pelo campo me traziam a paz e luz precisas para dar poucos passos até você. O céu brilhava, os meus olhos brilhavam, o lago brilhava (como nunca) e meu coração explodia a cada minuto passado no relógio. Enquanto todos se acomodavam nas cadeiras brancas, com uns detalhes retrô, que você escolheu a dedo, meu irmão tentava acalmar minha ansiedade e a minha pressa em te ver caminhar para os meus braços.

Chegou o momento. E você não seria aquelas noivas atrasadas. Porque além de quebrar protocolos, exatidões e costumes populares (nada convencionais), você não atrasaria nosso momento de ser feliz. Pra sempre. Quando o Sol se posicionou na minha margem, você chegou com rendas cobrindo seus ombros, com uma tiara de flores bem simples no cabelo e, principalmente, com esse sorriso de rasgar um coração. O meu. Você veio devagar, sem salto, com os cabelos soltos mais loiros que o Sol, levitando sobre as pétalas de rosa que decoravam o caminho até mim. Eu quis ir te encontrar. Quis andar em sua direção e te carregar o mais depressa possível para o altar de madeira antiga acolchoado de tecido branco. Eu quis gritar “sim” antes do padre perguntar e quase tirei as alianças do bolso antes da cerimônia começar. Você trouxe, com esse encanto que não cessa, uma necessidade ansiosa em me ligar de uma vez por todas a você. E eu quase agradeci a presença dos convidados antes da hora, quase te beijei antes da permissão santa e por muito pouco eu não te levo pra casa antes da benção final.

Ajoelhamo-nos. Demos as mãos sem querer desgrudá-las jamais. Você me olhou com olhos-de-satisfação e me sorriu com sorriso-de-amor. Eu te retribuí com um sorriso branco pra te iluminar ainda mais. Em alguns minutos, com o vento soprando o seu rosto suavemente, a copa das árvores derrubando jasmins sobre nós e o Sol se despedindo e sendo testemunha dessa felicidade, você se tornou uma mulher casada com um homem até então um pouco desencontrado, mas que agora não se perde nunca mais. Você saiu de casa com os olhos pintados e marcados por rímel, com esse rosa suave em sua boca e um buquê pronto pra fazer mais uma noivinha feliz. Você deixou a casa da sua mãe ainda enrolada com um cara que remenda os óculos para não se desfazer deles, que compra livros como quem compra pão e que te ama mais do que tudo nessa vida, para se tornar esposa desse mesmo maluco, galanteador e estranhamente terno, ainda que completamente apaixonado pela melhor esposa do mundo.

- Hoje começa a nossa vida. Regada a carinho, companheirismo e amor. Eu passei sozinho por esse tapete de pétalas, mas faço questão de deixá-lo com as mãos grudadas nas suas, confirmando o que tenho dito: eu entrei como um só e agora saio sendo dois em um.

Dani Fechine

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