Na dúvida mistura tudo

Já fazia uma semana que nada era escrito, anotado ou sequer falado. Tentara escrever sobre tantas coisas, tantas pessoas. Mas uma noite cansativa de acúmulo semanal não leva texto a fim nenhum. Tentei a saudade, que é algo que sempre se consegue desenrolar, um uma história de amor não correspondido - porque não há nada mais clichê e mais procurado do que texto de amor infeliz. Mas parei na metade. É como se aquilo já não mais me interessasse. Triste demais pra alguém que não convém se preocupar com isso. Só saiu algo sobre lágrimas e passado. Não, não. Isso não caberia num texto novo. Pulei de tema. Tentei falar da rotina. Porque nada mais fácil do que falar sobre seu próprio dia. Uma espécie de diário sabe? Diário semanal. Nossa, pensando bem, o meu seria um enorme tédio. Melhor não. Vocês vem aqui pra se distrair, não pra estudar. Resolvi parar.
Já era tarde da noite, luz nenhuma me vinha a cabeça. Só aquela meio amarelada no teto do quarto. Definitivamente não seria o dia pra pegar o notebook e me jogar nas letras enormes do teclado. Não era dia de expor nada. No meu quarto não havia mais nada e mais ninguém. Apenas eu, deitada na minha cama, ventilador bem posicionado, computador ligado, e vai uma xícara de café também, pra parecer mais escritora do que nunca. O silêncio era absoluto. Só se ouvia os dedos no teclado e uns ruídos no quintal. Ah, os ruídos. Isso me assombra a cada minuto. É uma certa loucura com barulhos estranhos. Ouço um e já paro de digitar, desligo o ventilador e passo de 5 a 7 minutos quieta e paralisada esperando ouvir mais alguma coisa. No final das contas, é sempre minha barriga roncando, pedindo o lanche da madrugada.
E de repente, quando o texto realmente está se encaminhado algo me desvia a atenção e ele para na metade. Será mais um em "andamento"? Nada mais pra me tirar a concentração do que um pensamento solto, preso Deus sabe onde nessa cabeça complicada. Não sei como, mas parece que quando menos se precisa, ele pula e te faz parar tudo que está fazendo. Isso nunca te ocorreu? Nunca te aconteceu parar no meio de um cálculo, de uma leitura, ou de uma conversa, e simplesmente sair daquele local? Viajar num ambiente novo, onde todos os seus pensamentos se encontram? É uma forma de reunião. Parece que cada coordenador de cada departamento dos seus pensamentos decidem fazer uma reunião geral de última hora, sem comunicar a ninguém antecipadamente. E quem cai na besteira de se atrasar é justamente você. Confuso. Melhor deixar pra lá.
E chego ao fim sem ainda saber o que queria escrever. Um texto de aniversário ainda não era o apropriado para a madrugada, e um conto requeria pensamento demais. Não havia mais nada pra se digitar, se não algumas palavras de 'boa noite' e 'até logo'. Decidi então desistir. Chega. Hoje não dá. Impossível. E aí você me aparece ressurgindo das cinzas. Um texto novo com tema velho pode estar por vir. Isto é, se não for madrugada. E fica aqui mais um texto breve sem muitos porquês e sem muitos acentos. Não há o que escrever, mas há o que publicar.

Dani Fechine