07 abril 2012

Terceira pessoa do singular

Estou muito bem. Sou rígida com o que quero, determinada. As coisas parecem se encaminhar pro lado bom, mesmo que isso não seja o aparentável. Você me vem a mente algumas vezes mas nada que me tire do foco. Estou começando a descobrir o que é e o que não é felicidade. E acredite, eu não gostei de tê-lo nesses conceitos. As coisas não estão a mil maravilhas, confesso. Preciso do meu amigo ao meu lado. Ele saberia me conduzir bem, independente do sorriso ou da lágrima que acaso eu derramasse.
Me parece normal um pedido de "quase" desculpa, me parece ingênuo, inofensivo até. Se tratando de você eu deveria saber o que esperar. Mas eu sempre espero o que quero. De repente minha estrutura perde alguns alicerces. Você me olha e sorri e me fala no ouvido e brinca e vai e volta e me abraça como antes. É tudo tão normal, tão déjà-vu [e acho que realmente a palavra é essa], que eu me faço de impressionada, eu fingo indignação [e realmente a tenha um pouco], eu tenho raiva e tenho vergonha. Amar alguém que realmente não devia é absurdamente incoerente e injusto.
E então você me abraça novamente, traz as piadas com um olhar antigo e me elogia com um sorriso que nunca foi seu, mas que sempre foi muito a sua cara. Você volta a fazer as mesmas atividades de quando estávamos juntos que me faziam imaginar que era apenas um meio de se ocupar. Eu me entendo. E então a gente se esbarra novamente. Você me olha sabendo que está prestes a me matar se por um acaso piscar o olho. E então você me mata. Você não é do tipo de homens que um dia eu iria me apaixonar. Mas eu me apaixonei. E não foi por quem você é hoje. Mas você se tornou tão meu, de tantas idas e vindas, você se tornou tão comum na minha vida, tão esperado, e tão normabilíssimo que hoje eu ainda me apaixono todos os dias por cada defeito seu que você insiste em procriar. 
E então você me liga, se preocupa com um simples "tchau" e resolve como quem nada quer, como quem está sem sono, ou como quem está com saudades [o que passa na minha cabeça, mas logo evapora], passar uns poucos 40 minutos na outra linha colocando, quem sabe, os assuntos em dia, de quando estive ausente. E aí você me faz dormir como um anjo. Não que você tenha dito "eu te amo", não que você tenha dito " sinto sua falta". Mas você disse. Você simplesmente resolveu falar. E ouvir você falar qualquer coisa antes de dormir, é somente, reconfortante e confuso. E então eu acordo. A noite foi maravilhosa. Sonhos reais demais acabando conosco desde os primórdios. Foi só uma ligação de 40 minutos como todas as outras do passado. Sem o "beijo, tchau" de despedida, mas foi. O problema está aí: como todas as outras do passado. Isso quebra até o que não se cola mais. 
Você some um pouco. Um pouquinho só. E liga novamente. Nada que me faça pensar muita coisa. Eu só tenho tempo de mudar meu humor. Nossa, como você é bom em fazer isso. Eu me sinto confusa e alegre ao mesmo tempo. Eu acredito em destino e isso me conforta um pouco. Mas não acredito nas pessoas. E isso tira todas as boas intenções amigáveis que talvez você tivesse. Pessoas não costumam ser como eu. Talvez está aí a dificuldade. E então você ressurge. Me joga cantadas de sempre como se eu fosse qualquer uma e como se eu caísse na sua lábia. Eu realmente não sou qualquer uma, mas caio na sua lábia. Porque quero e não por outro motivo. Te conheço o bastante pra saber em que não devo confiar. Então você vai ao mesmo local que estou, sempre em comunicação comigo, não com os outros milhões de amigos que se encontram no mesmo ambiente. E então joga a mesma frase de sempre. Posso até não ser mais tão chata assim, mas serei a chata de sempre. Você me acostumou a isso. E eu te amo por isso também. Não que seja uma coisa boa, mas você é lindo e feio ao mesmo tempo me fazendo recordar, sem querer, um tempo interessante que foi vivido. Como se não bastasse e realmente não basta, você fala naquele lugar que era nossa segunda casa. Eu sei que meu desejo é voltar lá como antes. Mas podia ser como agora também. Mas esse lugar ao ser pronunciado por você só me remete a nós dois. Impossível discernir. E então você me lembra que me fez gostar da melhor música do cantor mais gasguito do mundo, e que na verdade é o mais afinado e lindo, mas que você me entende quando eu falo isso. E ainda resolve dedicá-la a mim. E eu seria capaz de reviver a minha vida de três meses em cada nota musical dela. Isso não se faz.
E claro, para encerrar o show da noite, que já está ficando muito tarde, eu desço do carro, bato a porta e entro em casa. Sou uma iniciante nata. Inicio as mesmas coisas sempre e melhor do que ninguém. Porque eu reinicio sempre. Nem que seja só em mim. Não que eu me orgulhe disso. Logo me deito, escrevo e me lembro como se fosse hoje das milhões de noites confusas que tive como essa. Porque você realmente sempre foi, mas em mim sempre ficou. E para os outros você sempre volta. Você nunca soube o que queria, mas eu sempre sabia responder quando falavam em você. Sinto as dores do julgamento. 


Dani Fechine

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