Não vamos ser clichês. Natal não se traduz basicamente no
nascimento de Cristo, tampouco em mais uma data comercial, de correria,
agitação, luxúria e ambição, onde os sete pecados parecem se sobressaírem com excelência. Basta ter olhos de promessa, desejos de criança e
aquela atenção infinda que a sua avó te dá e sempre te deu todos os dias. Natal
não é ímpar. Não é o dia 25 comemorado no dia 24. Não é aquele presente no
canto da árvore, não é a ceia à meia noite e muito menos a roupa nova que você
comprou junto com aquele sapato da última coleção. Natal não é luxo, queridos
leitores.
Vou-lhes contar onde está o espírito da coisa. Onde a gente
encontra essa palavra tão animalesca e ao mesmo tempo tão personificada e
coisificada em banalidades. Natal, meus caros, está na inocência de uma criança
em acreditar que Papai Noel é sim, um velhinho com grande barba branca, uma
barriga enorme, um saco vermelho imenso recheado de presentes e conduzido com
toda a magia do mundo por suas renas em seu trenó. Natal é ver o brilho nos olhos
de um menino que pouco tem de comer, de vestir, de brincar e alguém o presenteia, seja com um um carrinho de madeira, seja com uma ceia. Essa estrela
brilhando incessantemente no olhar é o Natal da forma mais mágica que você
pode imaginar.
Natal é a família reunida. É reencontrar parentes. Dizer que "não, tia, eu não tenho namorado". Natal é
abraçar. Ser sincero, desejar profundamente o bem do outro, sem olhar pra si. É
deixar o egoísmo de lado e praticar a generosidade, a bondade, humildade, e
sempre a honestidade. É comprar um presente sim, mas não por obrigação; é
presentear por amor, por gostar de ver um sorriso no rosto de quem o recebe; presentear pelo simples fato de se satisfazer ao entregar a alguém um pacote dourado com fitas
vermelhas.
Natal também é a ceia. Mas é muito mais o compartilhamento,
a retribuição, a gentileza com o outro. Natal é repartir a fartura dos que
tanto têm com os que com pouco vivem o ano inteiro. É visitar um amigo
distante, matar as saudades; porque Natal é também época de reconciliação, de
sorriso estampado no rosto com toda a sinceridade existente nessa vida.
Natal é fazer o bem sem olhar a quem. É seguir esse ditado
clichê mais a risca do que nunca, é levar alegria a quem a procurou a vida
inteira, mas nunca a encontrou. É levar esperança à quem a perdeu por algum
motivo importuno, alguma tristeza involuntária. Natal é perguntar “você precisa
de ajuda?” quando na verdade é você mesmo que necessita de uma forcinha pra se
levantar. É dar a mão quando você também precisa recebê-la. É se preocupar com o
outro, ainda que a sua vida não esteja em pleno carnaval.
Natal é quase amor. Parece-me uma época meio falsa, meio
camuflada por presentes, joias, roupas e chocolates. Mas olhando com
olhos-de-esperança e sorrisos-de-encanto, essa data muito me agrada. Se a gente
resolver incorporar Pollyanna durante um dia sequer e jogar "o jogo do contente" tudo
parecerá ter uma estrelinha brilhando lá no fundo. Há um lado bom nessa coisa de
trocar bondades mascaradas de obrigações. Há um brilho especial, uma magia
contagiante. Não existe um pozinho de pirlimpimpim, mas vá lá, exala teu brilho
próprio porque tem muita gente precisando dele pra brilhar um pouco. Natal é
compaixão. Saudade. E sim, natal é amor.
Dani Fechine
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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)