23 junho 2012

Nostalgia Junina

Hoje o dia está bem calmo. Nada de forró pé de serra no rádio, ou tumulto dentro de casa. O São João desse ano já começou errado a partir do momento em que caiu em um final de semana. O que é o são joão, senão mais um feriado no nosso calendário? Há alguns anos a festa começava uma semana antes. Os fogos eram comprados com a maior ansiedade que cabia em mim, quando meu tio apanhava eu e minha irmã na nossa casa e íamos em busca de alegria. Aquela alegria que fazia muito barulho, mas tinha seu lado bonito. Chegávamos cheias de sacola em casa. Traque, chuveirinho, estrelinha, bombas, "árvore de natal", peão, ratinho... A gente sabia fazer o nosso ano novo em pleno são joão. Em casa, o movimento começava cedo. Mamãe e vovó com a mão na massa. Tinha de tudo. Canjica, bolo, carne, pamonha, e o milho. Ah, o milho! Esse era comprado a dedo. Pra não vir nem muito duro nem muito mole. Eu me sentava na porta da cozinha e tirava toda a palha dele para poderem fazer a canjica. Eu não gostava muito, mas era bom ajudar a fazer uma festa que você iria fazer parte. Quando chegava a tarde eu me sentava no terraço cheia de revistas, tesouras, cola e barbante. Era a hora de enfeitar o local. Tinha bandeirinhas de todos os estilos. E eu fazia com o maior gosto do mundo. Engomava meu vestido de quadrilha, separava em cima da cama junto com os sapatos e o chapéu de trancinha. Durante o dia meu avô andava pra lá e pra cá carregando madeiras e lenhas para fazer a fogueira. Ela sempre foi muito grande. Passava dias pra se apagar e ir embora de vez. Na hora da festa era muito pé de serra. Eu dançava com todo mundo, até com minhas tias. Tirava fotos, comia muito. Acendia um vela, que era melhor pra ficar soltando os fogos. Eu lembro que pra acender a estrelinha era um sacrifício de vida. Tinha que ir pro escuro pra ver melhor e tinha que ser um lugar que não fizesse muito vento. Eu era feliz quando conseguia. Salpicava várias estrelinhas perto de mim. Pareciam vaga-lumes. Meu primo as vezes acendia o "mijão", aquele que sai correndo atrás de todo mundo. Eu morria de medo de chegar perto de mim. Tinha um peão que mudava de cor e todo mundo achava lindo. E a atração da noite era sempre a "árvore de natal". Todos paravam pra olhar. O melhor de tudo era que a festa não terminava na madruga do dia 24. Ela se estendia até o São Pedro. E a festa era outra mais uma vez.
Desse tempo pra cá muita coisa mudou. As festas foram ficando cada vez mais calmas e quietas. Diminuiu pra um forrozinho com canjica e bolos. Depois veio o tempo só do churrasco a noite. O tempo que eu só soltava fogos e não tinha festa. Teve também o tempo que viajei pra um lugar calmo. E tem o tempo de hoje, que não há nem fogos nem festa. Eu cresci um pouquinho, não ligo mais pra fogos. Mas a festa é de uma falta enorme. O dia de hoje parece um dia normal. Pra mim não é véspera de são joão. Estou no meu espírito normal. Sem ansiedade, sem nada. Ouvirei os fogos mais tardes dos vizinhos mais próximos e dos distantes também e irei lembrar de como era bom ser criança. Hoje a minha tarde pode até ter a ver com bandeirinhas, mas eu terei que calcular a área e o perímetro delas. Ver o seno de cada ângulo e calcular o determinante das arestas pra ver se estão alinhadas. Bom são joão pra quem não perdeu a magia de comemorar. Guardarei os fogos para o ano que vem.

Dani Fechine

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)