05 setembro 2012

"Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que a fez tão importante..."

Sabe os espinhos que você deixou? Eu ainda guardo todos. Desde os mais fáceis de serem retirados até aqueles que encravam na pele. De você, eu também guardei as pétalas. Algumas secas, esfaceladas e escurecidas. Algumas ainda não murcharam, e pelo tempo que estão guardadas suponho que se conservarão para sempre. E, infelizmente talvez, guardei de você o que eu deveria ter descartado desde a primeira regada. Guardei as suas raízes. As primárias e as secundárias. Eu cavei fundo, muito fundo, para não machucá-las e para saírem intactas do solo. Eu lavei-as e cuidei como se fosse uma criança mesmo. Eu guardei essas raízes em um potinho e juntei com as outras partes da flor. Não se reintegra mais, mas ela está ali. Os espinhos que ficaram na pele, retiro um a cada dia. Mas são muitos e talvez demore um pouco. Talvez alguns permaneçam, os menores, arrisco. As pétalas perfumam o meu quarto com aquele cheiro de terra, de pó, de passado e de dor. Mas deixam um suave perfume quando se adentra mais profundamente no cheiro. Dão um ar bucólico à vida e ao meu pretérito imperfeito. Mas gosto delas. Gosto da cor bordô que tomaram com o tempo. Mas as raízes... As raízes são mais difíceis. Depois que arranquei-as e guardei-as, em vez de deixá-las morrerem no solo árido que se tornou depois que você se foi, elas se tornaram mais vistosas. Talvez porque de uma vez por todas você se tornou meu. Foi possessivo demais, confesso, arrancar você pela última camada possível e guardar pra mim como se não houvesse vida. Mas perdão, eu te trouxe de volta. Eu te cuidei e te mostrei como exercer o "continue sempre assim". Mas se a gente esquece de regar um dia sequer, a raiz começa a enfraquecer. E é por isso, é por eu ter dedicado tanto tempo a você que eu me tornei também um pouco fraca. Mas é também por perceber que, não importa quantos espinhos nos perfurem, quantas pétalas ressequem, a gente precisa guardar a raiz e nunca deixá-la morrer. Porque é exatamente isso que nos reestrutura novamente. Eu não posso te trazer de volta ao seu estado completo, mas eu posso cuidar de cada parte sua que ficou em mim. Eu posso te plantar de novo, se você quiser. E quem sabe se a gente recomeçar com uma nova flor, ela permaneça para sempre? Se a gente regá-la juntos, quem sabe. Já dizia o Titãs: "as flores de plástico não morrem". Mas essas, queridos, são falsas.

Dani Fechine

4 comentários:

  1. Liiiiiiiiindo,amei,a metáfora perfeita... Cada vez melhor dani aonde você vai parar?? Bjs

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  2. Oun Dani, acho que essa foi a primeira vez que eu vim aqui e não me arrependi, não que os outros textos fossem ruins ou algo parecido, apenas falavam por mim e parece que mesmo sem saber de nada você me descrevia, e dessa vez não foi diferente, você conseguiu descrever o que eu sinto mas pela primeira vez foi um sentimento aliviado e fiquei dizendo dentro de mim: É isso mesmo, é bem assim.
    Foi linda a descrição de um amor assim, puro e encantador como uma rosa.
    Acho que isso se trata da nossa evolução!
    Parabéns, sou fã dos seus textos.
    Continue sempre regando e firmando as raizes desse blog!

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    1. Primeira vez mesmo, é essa, que eu fico tão surpresa por ver um comentário assim. Obrigada, mesmo.

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  3. Fantástico! Nunca deixe de escrever...

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)