05 novembro 2012

Haja o que houver: aja

Um texto. Era a única coisa que eu pedia no meio de tanta algazarra. Eu só pedia que palavras pudessem explicar o que eu sinto e o que se passa dentro de mim, essa coisa que nem eu, a pessoa mais provável, sei detalhar ou exemplificar: essa loucura de ser mil. Ponto final. Um texto me bastava. Escrever sobre qualquer coisa. Ou sobre você, ou sobre esse mundo de livros que invadiu minha vida, ou sobre a pior dor que já feriu meu peito. Qualquer história dramática e desconhecida viria a calhar. E então depois de tanto tentar, depois de tantas frases sem pontos finais, vírgulas intermináveis, e um coração explodindo em palavras, eu consegui, embora não sem medo, digitar algumas linhas num parágrafo murcho e sem graça. É de se esperar que alguém tão decidida de si e ao mesmo também tão indecisa com as coisas supérfluas, se abalasse com qualquer gota de chuva que caísse de um céu ensolarado. É de se esperar, porque afinal, toda montanha coberta de gelo se derrete ao longo do tempo. Alguém assim tão romântica com as coisas que o mundo nos mostra, só poderia estar se corroendo a cada texto não terminado, incompleto. Nem nas entre linhas haviam palavras. Nem nos rascunhos. Nem nas páginas finais do caderno. Mas a cabeça explodia. Ninguém é grande o suficiente pra suportar tudo sozinho. Nem que seja um papel e uma caneta, mas algo precisa te acompanhar na labuta. Era de se crer que não fosse nada fácil, julgando que as palavras sempre foram as maiores companheiras de alguém que não gosta de gente - a não ser para estudá-las ou pra amar de verdade. Um texto viria como um remédio tarja preta e ao mesmo tempo como um relaxante muscular, um calmante, um suco de maracujá. Me traria a saudade e a paz. E como se tudo que você já viveu não tivesse valido de nada, você se pega presa em um ano obscuro, incomodado com a sua própria existência no planeta. Eu sabia que esse tal de Ano não tinha ido com a minha cara. Quando ele começou a chegar, eu já havia percebido as caras e bocas que ele fazia pra mim. Mas não precisava ser tão direto com as ofensas. Me trouxe tristeza, raiva, decepções, e como querendo se desculpar por tudo, resolveu me presentear com uma alegria sequer. Uma só. Mas nada apaga o que o Ano causou em mim. Me fez parar com as palavras, me fez chorar mais do que a minha vida inteira até aqui, me fez abaixar a cabeça por fraqueza, ser pessimista, inconstante. Me fez ser ausência e sentir a ausência também. Imagino que meu jeito tão seguro das sensações foi que desencadeou tudo isso. Coitado do Ano. No final das contas não teve culpa nenhuma e eu aqui descontando todas as minhas injúrias em um simples calendário humano e divino. A gente precisa, infelizmente, passar por mais baixos do que altos pra se estabilizar, se equiparar com o mundo. E não conseguimos seguir sozinhos. Não precisa tentar muito menos insistir. Está escrito na testa de cada um que a gente precisa de alguém. Sozinha não dá. E desculpa se acabo de te decepcionar. Mas é que não basta se olhar no espelho e dizer: "Eu consigo!" É preciso acreditar e sobretudo ter alguém que acredite em você. A vida nos mostra que o caminho é sempre muito longo, e que há sim uns atalhos que a gente pode tomar. Mas mostra também que nem sempre esses atalhos são propícios e que a gente deve seguir da forma que deve ser, mesmo na dificuldade. E sozinho ou não, você precisa ir. Esteja com você mesmo. Não se abandone. 

Dani Fechine

2 comentários:

  1. Dani, (desculpe a intimidade imediata) dessa vez, eu realmente não pude medir o quanto me vi em suas linhas, confesso (se esse for um confessionário "aberto" ou "fechado") estive à ponto de ultrapassar os limites da razão, este mesmo "Ano" (acho que há um parente dele aqui comigo que me deixou marcado e o qual ainda me persegue) me pegou sem exitar e sem misericórdia.
    Puxa, parece até que nossas experiências são próximas, eu, também tive meus impasses, porém, esse texto falou mais uma vez, agora na medida certa, ou seja, no ponto que realmente precisava. Ñão foi como aquela injeção que tem de percorrer todo o corpo para chegar ao lugar do agravo, foi uma injeção direta, como uma injeção de adrenalina no momento de um colapso cardíaco!!! Muito obrigado mesmo!!!!

    Continue escrevendo, por favor, não pare...

    Ah! Tenha um feliz Aniversário!!! Parabéns e tudo de bom!

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    1. Sei bem como é essa sensação. Muito obrigada, não pararei!

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)