25 novembro 2012

Neguinha, te encontro na fé

Queria poder te dizer, frente a frente, que eu não acredito na sua ausência. Você ainda é presença forte na minha vida e na de cada um que com seu sorriso ficou. Estranho é chegar em casa e não te ver mais sentada à mesa em horário de almoço, com todas as suas manias postas ali. Vazio é começar o meu dia e não te ver caminhar pela casa, é pegar o caminho para escola e não receber sua bênção antes de sair de casa: "Vai com Deus e pelo cantinho do muro." Confesso que nunca entendi muito bem essa sua teoria, mas nunca te desobedeci. 

Difícil é, em um dia de descanso qualquer, deitar nas almofadas da sala, assistir a qualquer novela, e não ter ninguém como a senhora para me fazer rir com as comparações de cada personagem. Como você dizia: "É osso!" É difícil levar a vida sem a senhora, chegar das minhas responsabilidades tarde da noite e não te ver sentada na sua poltrona, quase dormindo, mas sempre dizendo: "Tô assistindo...Vou já dormir." Porque da mesma forma que eu sinto falta das suas manias e dos seus carinhos, sinto também das suas broncas. Do copo em cima da mesa, da louça suja, dos livros espalhados pela casa, dos pés no sofá. Saudades, vó. 

Lembra das noites de apagão? Lembro-me de como me divertia dormindo no terraço com a senhora; você dormia como um anjo, e eu não aguentava nenhuma hora perto daqueles mosquitos. Lembro-me muito bem de como a senhora sempre me elogiou muito pra todo mundo que viesse a conversar com você. Sempre acreditou na minha vitória, e de que eu conseguiria passar no vestibular. Sempre me mandava descansar, parar um pouco de estudar, sair com meus amigos. Quando resolvia seguir seus conselhos e me arrumava da melhor forma que eu sabia, você olhava pra mim com um olhar de saudade interior e dizia: "Tá uma gata, vai arrumar um 'coelho' por lá." A verdade é que eu nunca arrumava, nem nunca ia pra arrumar um, mas sempre saía de casa com um sorriso no rosto por ouvir suas palavras extrovertidas. 

Lembro que você mandava eu guardar comigo a melhor amiga que eu tenho. Deixava sempre bem claro que ela era como uma neta e que eu tinha uma amiga de verdade. "Cadê Bia que nunca mais veio aqui?" E então ela aparecia pra te trazer alegria. Hoje a gente leva a vida sem a senhora, mas com a certeza de que tem um anjo nos guiando para sempre. Os domingos nunca mais serão os mesmos, muito menos a alegria desta casa. Os jogos de futebol e de vôlei também não terão a mesma emoção. Minhas conquistas nunca mais terão um gosto muito bom; faltará você pra me parabenizar, me abraçar e dizer que está muito feliz por mim. Nunca mais teremos um Natal feliz. É forte dizer isso, mas é uma verdade que temos que encarar. Nossos finais de ano serão os nossos piores recomeços. Meu aniversário já começou a mudar de estrutura. Triste mesmo foi não te ter por perto nos meus 18 anos de vida. Triste foi não ouvir você dizer: "Eu que estou ficando velha..." 

A senhora sabe que difícil mesmo, além de te ver partir assim, foi te escrever. Demorei um tempo pra me acostumar com a ideia de que você não leria isso. E difícil também foi relembrar tantos fatos e saber que eles não voltam mais. Deixo aqui a minha declaração de que esse foi o texto mais difícil de escrever, e diante mão, não será o último. A única forma que encontro de eternizar a senhora, vó, é te escrevendo. É deixando bem claro a sua importância na minha vida. Estando por aqui ou não. 

Na última vez que nos vimos, você me pediu com lágrimas nos olhos, que eu rezasse pra senhora sair logo daquele hospital. Eu rezei. Perdão vó, se não foi o suficiente. Sentirei e sinto saudades enormes das suas brincadeiras e das suas alegrias. Infelizmente não houve tempo pra que você me ensinasse a costurar. Agora a gente paga uma costureira pra fazer algumas roupas, acredita nisso? E a gente sempre diz: "Vovó faria isso rapidinho..." Saudades, vó, de te ensinar todos os dias a ler as mensagens no celular, saudades de te ver reclamar desses cabelos tão lindos e tão lisos, saudades da sua voz, do seu sorriso, saudades de ver deitada na cama, e sobretudo, de te ter aqui dentro de casa. Perdão, vó. Perdão se não fui muitas vezes a neta que você quis ter, perdão se falhei, se deixei a desejar. Perdão, principalmente, por meu silêncio tão grande. Sempre gritei dentro de mim o quanto eu te amava, e embora não explodisse isso sempre, você tinha certeza disso. Perdão, vó, mas eu não consigo não chorar. Sei que estás num lugar maravilhoso, fazendo jus a pessoa que você foi. Mas eu não consigo não ter saudade. Eu não consigo me acostumar com sua ausência. Eu sei que estás aqui, e sei que estarás para sempre. Eu te amo. A gente se encontra um dia, eu tenho certeza. 


Dani Fechine

10 comentários:

  1. Lindo,emocionante,tocante e cheio de saudades. Eu de fato não consigo acreditar ainda,acho que ela está no ceará ou na casa de Ivana,é bem estranho mas de uns tempos pra cá foi sempre assim.Não esperava que meu nome fosse mencionado.Sabe acho que ela de fato não morreu porque ela vive em nós,a voz dela vive,o abraço vive,o sorriso viverá para a eternidade.

    Eternamente a coelha do meu coração!

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  3. Lendo e chorando...eu vivi tão intensamente com ela, por isso sinto tanta falta. Nada eu fazia sem combinar com ela. Os conselhos eram tão sábios e quase sempre eu estava de acordo. Agora acho tão ruim chegar aí e não ver mainha cuidando do almoço, do jardim ou até mesmo na televisão. Tomar um cafezinho em sua companhia ou deitar na cama ao lado dela pra ela cochilar. Tenha certeza que ela está em um lugar muito iluminado porque ela é do bem e uma mulher incrível. Choro quase todos os dias sentindo sua falta, mas sei que ela tá pertinho de nós, pedindo para que não soframos pois ela está bem, e, certamente iremos encontrá-la um dia.
    SAUDADES MAMIS.
    "Como é grande o meu amor por você"

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  4. Oi Dani!
    Nem tem o que falar de tão lindo que foi tua escrita. Nesse silêncio pensativo que você me provocou só posso te dizer uma coisa: eu senti cada palavra de amor que você escreveu.
    Belo texto!
    bjs

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  5. Perfeito, me fez chorar.
    Lembre, ainda tem muitos para te aplaudir. Não se culpe por uma coisa irreal, você fez aquilo que estava em suas mãos. É um ótima pessoa e tenho certeza que sempre foi uma boa neta, que deu tanto orgulho e sempre deixou os olhos dela a brilhar. Beijão. To contigo galega. =)

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  6. Sem palavras...a saudade é enorme e a vontade de voltar no tempo também...mas sinto ela tão perto...a presença dela em casa é forte demais!
    Dani,escrevi anônimo porque não sei fazer de outra forma...rsrs...Sua velhinha.

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  7. É a grande saudade,onde o término não se sabe, só se sabe é que aos pouco vai girando os pensamentos e a cada canto uma memória viva que fala a grande perda, a grande presença o sentido de estarmos sempre bem próximo de quem amamos e dizer sempre EU TE AMO, TE ADORO E BEIJAR COM INTENSIDADE E SENTIR O CALOR DE UM SER QUE E GRANDE COMO UM DEUS.

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  8. Muito bonito,ela deixou muitas lembranças maravilhosas e me deu muitos conselhos,pessoa inesquecível.

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  9. Muito Perfeito! Me fez relembrar meus velhos avôs, que sempre estava na mesa almoçando e contando histórias. Nunca mais consegui sentar na mesma mesa. Senti tão forte cada palavra sua... Obrigada por me trazer tanta alegria! As lágrimas é um sorriso escondido de emoção e muito carinho. bjs, Dani.

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