Te faço cafuné, penteio até o seu cabelo, e
faço as tranças mais lindas. Fica que eu te conto mais uma vez como é se
apaixonar todos os dias pela mesma mulher. Te compro a sua torta predileta,
faço voz e violão com Something e deixo até o cachorro subir na cama e te fazer
voltar a ser criança. Morena, deixa esse brilho iluminar um pouco o meu
apartamento, esse cubículo que vira mundo quando você entra. Me liga dizendo
que está com saudades e que não vê a hora de me encontrar, por acaso, na dobra
daquele restaurante à la carte que a gente encontrou perdido nessa cidade. Me
dá esse teu sorriso misterioso e me pede, mais uma vez, pra deixar a barba por
fazer. Eu deixo. Até gosto. Porque esse teu olhar de que quer me beijar por
isso, é uma despedida triunfal para uma noite de terça-feira.
Moça, te peço, fica. Esquece os erros de português, os
verbos intransitivos e o pretérito imperfeito. Pisca os olhos com delicadeza,
me sorri olhando de baixo para cima e passa a mão nos seus cabelos longos. Eu
sou capaz de passar o resto da minha vida sentando, te olhando encantado. Eu
também fico. Juro ouvir todos os seus causos, os seus problemas, suas histórias
e desilusões. Vou te abraçar pra te proteger, vou te fazer carinho pra ver o
arrepio da sua pele, e te prometo fazer da tua vida uma possível esperança de
que vale a pena pisar descalço no mundo lá fora. Se você ficar pro café, te
faço também no almoço o fettuccine que você gosta e ainda abro aquela garrafa
de vinho guardada pra alguma data especial. Não há ocasião melhor para
brindar, do que te ver ficar. Te ver tirar os chinelos, prender o cabelo com uma
agilidade que só você tem e sentar no final da mesa, com um pé na cadeira e o
outro riscando o chão. Agora você morde um pedaço do sanduíche e enquanto toma
mais um gole do café, me olha por cima da xícara, me fazendo esquecer que eu
também preciso de uma bebida quente.
Menina dos olhos que fitam, senta aqui. Lê esse livro que comprei
pra você, deita na cama com as pernas entrelaçadas e ainda com a camisa que
te vesti logo cedo. Fica, mas fica pra sempre. Não volta correndo
arrependida. Homem que é homem tem lá suas fraquezas, e a minha é te aceitar
sempre que você bate na porta com essa cara de que eu estava mesmo certo. Fica
pra me dar bom dia e deixar eu te beijar na ponta do nariz quando eu virar pro
lado e te ver deitada preenchendo o melhor lado da cama. Me deixa te ligar e
dizer que hoje é o dia mais feliz da minha vida, porque você ficou. Moça, não
corre. Descansa essas pernas, porque a maratona está chegando ao fim. Ou você
corta a fita da linha de chegada ou deixa que alguém corte pra você. Vem,
morena, eu estou te esperando no pódio, e o troféu é a nossa felicidade eterna,
a nossa rotina nada convencional e um sorriso que abraça o teu corpo inteiro.
Moça, eu te amo tanto. Fica por isso. Fica, porque o meu
amor é o suficiente pra nós dois. Eu amo por você. Amo por mim. Amor por nós.
Mas fica, vai. Não limpa os pés quando entrar, nem bate mais na porta. Fica e
desliga esse abajur que eu prefiro ver as curvas do seu corpo com as minhas próprias mãos. Fica e traz a tua melancolia cômica pra mudar os ares daqui. Não te peço
mais que isso: fica. Sabe o que é, moça? Eu te amo tanto que fui cego até pra
perceber que amor não se pede, nem se mendiga. Amor a gente sente. Mutuamente. Então, quer saber de uma coisa? Vai!
Dani Fechine
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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)