Um conto diferente

               Confesso. Eu não aguento mais essa inconstância. Como se não bastasse ela se apaixonar, ele tem hora que a quer e tem hora que não. Ai sabe como eu fico? Todo despedaçado. Tem hora que eu até estou inteiro, quando é um elogio que ela recebe. Quando ele aparece só falto sair pela boca. Acelero como um carro de corrida, mas também é por ele que eu quase paro de bater.

               Tudo é culpa minha. Ou eu sou muito burro, ou sou de pedra e não deixo ela derramar uma lágrima, ou se ela derrama é porque eu sou mole demais. Depois de tanto sofrer, ela me dá um descanso. "Preciso acalmar meu coração." Já pensou? Até parece que sou eu que estou eufórico, agitado e inconstante. Ela me recompõe todo. Tenta cicratizar as feridas que todos me causaram, e alí eu fico, todo remendado. Sempre deixando uma pontinha do curativo meio solta, porque é impossível se esquecer tudo.

               Ai a minha dona resolve ser feliz e vai curtir por ai. Eu fico meio esquecido nessas horas sabe? Ninguém quer mais saber de mim, porque agora tudo é a 'razão' e blá blá blá. Essas meninas nunca sabem como esquecer alguém, só pode. Me abandonam, ver se pode? Aí, como se não bastasse, a garotinha inconstante se apaixona de novo. Ah, me desculpe, eu não aguento não. Lá vem ela sofrer de novo e me culpar de tudo. Vai ter uma hora em que eu não vou mais aguentar e ela nunca mais vai amar ninugém.

               Eu posso ser de pedra, ser mole, ser cheio de músculos, mas eu confesso que não sou tão forte assim. Vai ter um dia que eu vou ter que parar com essa de palpitar por qualquer um. Ops. Chegou a minha vez de ser atendido. Um beijo pra vocês, lá vou eu fazer meu curativo mais uma vez. Um abraço bem forte de quem sempre está com você, seu coração.

Dani Fechine