10 agosto 2013

Foge e fica


Parecia meio imprevisível e até surreal, mas te ver chegar, acelerar meu coração e tomar a minha fala fez tudo ser real demais. E até explícito, arrisco. O mesmo rosto de criança e a mesma conduta de adulto. Como você conseguia ser sempre um anti-herói de chinelos perdidamente apaixonante? Você transborda aquela mistura inata de vilão e mocinho. Gosto do seu lado vilão; quando você senta no sofá meio irritado: ou alguém pisou feio na bola ou foi você que pôs tudo a perder. Não foi futebol. De cara eu sei que não. Mas amo seu lado mocinho meio invisível: esse seu carinho singular e essa sua atenção que exala simpatia.

Olha Gerry, não sorri assim pra mim. Meu coração é fraco e minha paixão por sorrisos é escandalosa. Esquece de mirar em mim quando me avistar, ou tira os óculos pra não me ver. Tudo isso pra você não reparar o meu sorriso bobo (e ridículo) e essa minha cara de romântica em Paris. Não se aproxime! Pare onde está e não me toque. Não me deixe sentir o choque que você me causa porque a voltagem é tremenda, pode nos matar, Gerry. Pro seu bem, não me abrace. Não me prenda em você. Não diz que foi um prazer. Não diz que tava com saudades. Não me envolve nos teus braços porque eu não saio nunca mais. Eu juro passar o resto da noite com a cabeça no teu ombro e eu nem ligo pro desconforto e nem acho ruim se eu pegar no sono. Não me dirija a palavra, não fale o que eu quero ouvir, não pegue na minha mão pra me falar algo sério. Por favor, Gerry! Meu coração tem um mandado de restrição contra você. O advogado dele, o cérebro, você sabe, disse que é melhor manter distância porque proximidade intelectual e atração eletromagnética é uma ferramente indestrutível: pode matar os dois de amor.

E então você se aproxima, me traz aquele sorriso irresistível e apaixonante. Você mira em mim de longe e ajusta os óculos pra não deixá-los cair. Mas parece que você irradia um veneno muito forte que mesmo de longe consegue me atingir. Espero que você não tenha reparado que eu respondi o seu sorriso como uma criança sorrir ao ganhar uma balinha. Então você acelera os passos e corre um pouco no final. Para bem na minha frente e respira fundo pra retomar o fôlego. Agora estamos na frente da confeitaria mais romântica da cidade e a partir de agora será o meu lugar favorito. Você me abraça apertado e isso é como um imã. 

Sinto você sorrir do outro lado; eu fecho os olhos e me entrego ao acaso. Tudo se perdeu. Já era, Gerry. Fomos longe demais pra rebobinar a fita. Fechei os olhos e sorri. Ou de alívio ou quem sabe de desespero. Você desgruda e eu nem sei como você consegue. Pega minha mão e olha fundo nos meus olhos, diz que sentiu saudades e que a melhor coisa que aconteceu até agora foi ter me encontrado e ainda completa (querendo ser preso por homicídio doloso):

- Sophie, que o mundo não me escute, mas eu não paro de pensar em você. (Eu vi o desespero nos seus olhos, de quem já não sabia mais o que fazer. Não dava mais pra correr. Impregnou no coração.)
- E que você não me escute, Gerry, porque eu também não paro de pensar em você.
E contrariando toda a física, a racionalidade e um pouco de sanidade que ainda existia, você se aproxima ainda mais, afasta o cabelo do meu rosto e tira os olhos dos meus. Meu batom vermelho agora é alvo. Você me beija. Eu me encontro. Você se perde. E meu coração sinaliza: "eu avisei".


Dani Fechine

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)