24 janeiro 2014

Eternidade

Era terça-feira. Você chegou com aquele ar de finalmente, sorriu de longe e acreditou que eu cairia na branquidão dos seus dentes à primeira vista. Não acredito em acasos, em porquês mal ditos, tampouco em propostas meia-boca. Mas esse jeito de quem tem muito a dizer, se por um acaso eu parar de tagarelar, me fez vislumbrar encantada nos olhos que escondia por trás das lentes.

Era apenas mais uma noite, em mais um bar, com mais alguns drinks postos à mesa. O pior lugar no mundo pra se encontrar um sorriso que não tenha sido provocado por algumas doses de tequila. Não sei se encontrei. E naquele momento, eternidade pouco me importava. Foi um amor tão grande ‘ao primeiro sorriso’ que bastava terminar a noite olhando pra você, e a eternidade já se faria ali. Em 30 minutos. Eu já poderia voltar à utopia do destino se ao menos o resto da noite eu passasse a admirar todo esse trejeito de quem pode conquistar o mundo com palavras, literatura, porquês bem ditos e um par de óculos pra tornar nítida a pseudo reconstrução de mim. 

Até então você me estudava da mesma forma que estuda um artigo científico em outra língua e depois de reler 10 vezes continua intrigado e ignorante no assunto. Deprimente julgo que não. Instigante, diria. E antes de me achar uma estranha nata, você se aproximou. Com essas palavras soltas em sorrisos – e eu não sei como você consegue sorrir, falar e encantar ao mesmo tempo – você me soltou uma frase que quase me fez puxar a cadeira pra você sentar. “Pela primeira vez nos últimos meses eu encontrei alguém que, de longe, me fez querer passar mais do que 10 minutos nesse lugar”. Não fiz as honras da casa. Mas você sentou. Se acomodou em umas das 3 cadeiras vazias e simplesmente nada mais foi dito. 

A noite já chegava ao seu fim e a lista de drinks também se esgotava. Eu precisava ir, mas seu sorriso me prendia naquele lugar como uma boa história te prende a um livro: o mundo parou de girar, os acontecimentos cessaram e agora estávamos só eu e o livro; eu e o seu sorriso. Parecia simples e fácil não trocar sequer uma palavra. Eu, que na companhia de alguém, assunto não me faltaria, simplesmente emudeci. Troquei alguns olhares, levantei a sobrancelha algumas vezes e por fim me rendi ao meu sorriso contornado de carmim muito forte. Você pediu duas taças de vinho como se aquele dia não houvesse fim e acertou em cheio no meu gosto. Brindamos a eternidade finda, a noite longa de algumas máximas três horas e o encontro de duas pessoas que, lembrando-me bem, nem os nomes haviam trocado.


A eternidade se concluía ali. Numa mesa de bar, copos vazios e esgotados de álcool, taças pedindo mais vinho, mais noite, mais tempo. A eternidade se firmava em uma noite onde a surpresa, a diferença e o encanto simplesmente decoraram um local repleto de pessoas alegres, bem apessoadas, mas completamente vazias. Eu consegui eternizar um momento de insight que tão cedo irá se repetir. O pub continuará no mesmo lugar, com as mesmas pessoas vazias. Não voltarei mais ali. Não se estraga eternidade com efemeridade. Não se confunde o ‘pra sempre’ com o ‘até mais’. A noite, por fim, acabou. Mas em questão de minutos eu conheci o que é eterno. De forma terna, cativante e escandalosamente passageira. E foi um prazer sorrir pra você.

Dani Fechine

Um comentário:

  1. "Mas em questão de minutos eu conheci o que é eterno. De forma terna, cativante e escandalosamente passageira."
    Acho que é bem isso!

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)