Ela é doce como uma acerola tirada do pé já com uma cor
vermelho encardido. Seus olhos castanhos-claro brilham como estrelas, e piscam lentamente como
se não houvesse nenhuma pressa para dar o próximo passo. Sua voz é como harpa
tocada aos céus: delicada, calma e de uma fineza indescritível. Todo o seu
corpo é macio e tem cheiro do sabonete líquido de morango que ela usa durante o banho morno. E da colônia
viciante que passa pra dormir. Seus cabelos, meio ruivos meio loiros, são sedosos
e se movem como num comercial de shampoo, embora esteja quase sempre com um
rabo de cavalo, evitando o calor. Começa lisinho na raiz e finaliza com cachos vultosos,
dando um tom de que acabou de sair do salão, mas, na verdade, acabou de
acordar.
Gosto do seu sorriso. Principalmente quando sou eu que o provoco. E a sua gargalhada é a minha música favorita. Seus dentes são tão inofensivos quanto suas unhas, curtas e
quase imperceptíveis. Utiliza-se das rugas da testa, ao franzir, quando a raiva
lhe consome. Bate o pé. Cruza os braços. Vira a cabeça evitando dar chance
a qualquer recaída emocional. Quando sai à tardinha para a praça, põe o seu
melhor vestido de cambraia, agarra-se a um carrinho de bebê e faz
uma hora se tornar a eternidade necessária para estampar a alegria no rosto de
qualquer um.
Seus abraços são incontroláveis, inegáveis e completamente
aconchegantes. Quando abro a porta, ao chegar do trabalho, exausto, ela
corre em minha direção, e eu jogo tudo pro alto. Dirijo todo o caminho de volta para casa aguardando
esses braços abertos me receberam com um amor que sou incapaz de sentir por
qualquer outra pessoa. Sophie é dona do melhor abraço da zona norte da cidade.
É o lar que busco todos os dias. O único lar necessário pra se viver feliz. O
abraço de Sophie é o melhor lugar do mundo e não o troco por nenhum outro
paraíso de águas cristalinas.
Seu gênio é forte e sua personalidade é tão bem formada
quanto a de um velho ranzinzo. Escolhe seus brinquedos como se estivesse escolhendo a música que mais lhe toca o coração. Tem que ser
amor à primeira vista, paixão ao primeiro toque e, por último, dá uma olhada na
etiqueta pra observar o valor. Não importa. Seu coração já foi arrebatado pelo livro de capa dura, repleto de figuras, mas com história encantadora. Empresta seus brincos, colares,
roupas e brinquedos a qualquer amiga. Mas quando se trata de escolher algum livro da sua
prateleira, seu coração gela, sua garganta fecha e em questão de minutos algum
outro assunto foi empurrado para despistar o empréstimo literário da estante
mais amada do mundo.
Sophie é um anjo. Não troco suas birras e choros altos por
nenhum beijinho na bochecha de outra qualquer. Prefiro o seu ranger de dentes, as
suas lágrimas de raiva caindo sobre seus lábios sempre úmidos e seu lencinho
enxugando-as, do que algum sorriso forçado de uma outra criança fingindo ser
feliz. A minha filha é o presente que papai Noel colocou embaixo da cama num
Natal memorável. É o ovo de páscoa recheado de calda de morango e pedacinhos de
chocolate branco. Minha filha é o amor que eu tenho pra eternizar meu coração sempre um pouco
congelado pela nevasca ou pelas amarguras. Sophie é a filha imperfeita mais
perfeita desse mundo, com suas mãos ainda pequenas e tão fofas quanto a
almofada que lhe dei de presente no último aniversário. Sophie é o meu
amor. E eu sou um pai que não trocaria esse amor por nenhum sorriso de canto de boca ou piscar de olhos. Como escrevera Vinícius de Moraes
há alguns amores atrás: “Assim como viver sem ter amor não é viver, não há
você sem mim, eu não existo sem você.”
Dani Fechine
Lindo!
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