29 dezembro 2011

Infeliz conto de amor

E ela foi embora com a intenção de não mais voltar. Dobrou a esquina ainda pensando em desistir correndo, falando aquelas coisas melosas de filmes de romance, que nenhum mais consegue viver sem o outro. Mas deixou a fantasia de lado e continuou. Não sabia realmente o que tinha feito. Quando uma escolha te machuca é a sua cabeça e o seu coração que sofre. E não voltou atrás. Guerreira ela que conseguiu ser forte o suficiente pra persistir em uma escolha. Ir pra não voltar... Isso é complicado. Ele ficou sentado na calçada, esperando que o caminho até a esquina se alongasse um pouco. Não havia nada mais belo pra ele do que aqueles cabelos longos e pretos se balançando com o vento. E deixou cair uma lágrima. Seus dedos nunca mais sentiriam aquele cabelo, o ombro, a mão. Mais nada. Um para o norte o outro para sul, com a intenção de nunca mais se olharem. Ela por querer aproveitar mais a época dos solteiros. Aliás, bem vindo ao carnaval. E ele por ter sofrido o bastante pra não mais querê-la em sua vida. E assim foi. Cada um do seu lado, vivendo uma vida estranha. Ele resolveu mudar e ser como ela. Não perdia mais festa nenhuma. E nessas horas aparecem mil e um amigos solteiros. “Alô?” “Não importa, vou com vocês.” Aprendeu a beber e entrou naquele padrão da sociedade. Camisa da moda, tênis da moda, cabelo da moda, e claro, não podia faltar o carro com aquele som estrondoso. Seu carnaval foi o melhor de sua vida, segundo ele. Parecia milho em pipoqueira. Ela, como é de se esperar, fez o mesmo. Resolveu mudar e ser como ele. O carnaval? Parecia um milho já pipocado. Ficou em casa, lendo um livro, escrevendo uns textos e chorando as mágoas. Com saudades de alguém que ela escolheu não ter mais. Deixou um para ter vários. Deixou de ser única para ser mais uma. Acabou sentindo falta de ser selecionada. “O quero de volta.” Ela não cansava de repetir a mesma frase com a mesma voz de quem havia chorado a noite inteira. Ele? Nem lembrava mais quem era Rosa, “aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor”. Foi embora, de bar em bar, mulher em mulher, até não ter mais dinheiro pra “solteirar” por aí. Namorar custava menos. Ela, depois do carnaval, enfiou a cara nos estudos pra ver se deixava de querer tanto o que não mais devia. Ele parou quieto. Sua fase de farreiro durou pouco, mas aproveitou bem. O suficiente pra esquecer quem não queria mais lembrar. E o destino se encarregou bem de escrever essa história. Tão bem, mas tão bem, que as linhas foram retas o suficiente para nunca mais se cruzarem. Ela, nunca o esqueceu. Ele, nunca esqueceu o que ela o fez passar. A dor sempre muda de lugar. É como enviá-la de volta ao remetente. Quem a fabricou que tome conta. 


Dani Fechine

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)