Infeliz conto de amor
E ela foi embora com a intenção de não
mais voltar. Dobrou a esquina ainda pensando em desistir correndo, falando
aquelas coisas melosas de filmes de romance, que nenhum mais consegue viver sem
o outro. Mas deixou a fantasia de lado e continuou. Não sabia realmente
o que tinha feito. Quando uma escolha te machuca é a sua cabeça e o seu coração que sofre. E não voltou atrás. Guerreira ela que conseguiu ser forte o
suficiente pra persistir em uma escolha. Ir pra não voltar... Isso é complicado.
Ele ficou sentado na calçada, esperando que o caminho até a esquina se
alongasse um pouco. Não havia nada mais belo pra ele do que aqueles cabelos
longos e pretos se balançando com o vento. E deixou cair uma lágrima. Seus
dedos nunca mais sentiriam aquele cabelo, o ombro, a mão. Mais nada. Um para o
norte o outro para sul, com a intenção de nunca mais se olharem. Ela por querer
aproveitar mais a época dos solteiros. Aliás, bem vindo ao carnaval. E ele por
ter sofrido o bastante pra não mais querê-la em sua vida. E assim foi. Cada um
do seu lado, vivendo uma vida estranha. Ele resolveu mudar e ser como ela. Não
perdia mais festa nenhuma. E nessas horas aparecem mil e um amigos solteiros. “Alô?”
“Não importa, vou com vocês.” Aprendeu a beber e entrou naquele padrão da
sociedade. Camisa da moda, tênis da moda, cabelo da moda, e claro, não podia
faltar o carro com aquele som estrondoso. Seu carnaval foi o melhor de sua vida,
segundo ele. Parecia milho em pipoqueira. Ela, como é de se esperar, fez o mesmo.
Resolveu mudar e ser como ele. O carnaval? Parecia um milho já pipocado. Ficou
em casa, lendo um livro, escrevendo uns textos e chorando as mágoas. Com
saudades de alguém que ela escolheu não ter mais. Deixou um para ter vários.
Deixou de ser única para ser mais uma. Acabou sentindo falta de ser selecionada.
“O quero de volta.” Ela não cansava de repetir a mesma frase com a mesma voz de
quem havia chorado a noite inteira. Ele? Nem lembrava mais quem era Rosa, “aquela
menina falsa pra quem jurei o meu amor”. Foi embora, de bar em bar, mulher em
mulher, até não ter mais dinheiro pra “solteirar” por aí. Namorar custava
menos. Ela, depois do carnaval, enfiou a cara nos estudos pra ver se deixava de
querer tanto o que não mais devia. Ele parou quieto. Sua fase de farreiro durou
pouco, mas aproveitou bem. O suficiente pra esquecer quem não queria mais
lembrar. E o destino se encarregou bem de escrever essa história. Tão bem, mas
tão bem, que as linhas foram retas o suficiente para nunca mais se cruzarem.
Ela, nunca o esqueceu. Ele, nunca esqueceu o que ela o fez passar. A dor sempre
muda de lugar. É como enviá-la de volta ao remetente. Quem a fabricou que tome
conta.
Dani Fechine
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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)