13 outubro 2013

Ruby Sparks versão masculina

Chamarei-o de Dylan. Paciente, calmo, atencioso e apaixonadamente magro, Dylan é um literato tão amador quanto eu. Ouve histórias aqui e alí de pessoas que nem sabe o nome, mas tem certeza que dariam um bom livro. De poucos amigos, ele prefere o sofá de casa, um bloco de notas ou um seriado interessante para um sábado a noite. As vezes inova indo em um "café" mais próximo e come uma fatia da sua torta favorita, sempre com alguma companhia agradável. Ama filmes. E cinema. Acha fantástico a poesia que existe nas músicas e dorme ouvindo Something, dos Beatles. Apaixonado por abraços, Dylan nunca perde a oportunidade de torná-los inesquecíveis. E únicos. Mas espera, todas as vezes que o faz, sentir a mesma sensação protetora e inacabável.

Livros nunca são demais. Há sempre uma prateleira esperando para ser usada. Não se importa com o que falam dele, afinal, sempre haverá um comentário pretensioso esperando-o. Continua usando os óculos de armação preta e apenas um pouco diferentes dos que usava na infância. Camisas lisas, de cores únicas, tênis sempre tão apaixonantes quanto ele. Seus chinelos brancos também encantam quando os combinam com aquela manga longa preta. Sua mente não para. Dylan é um amante da literatura e anda sempre comparando pessoas a personagens. É fantástica essa memória que ele tem de saber, minunciosamente, todas as características introspectivas de cada protagonista. Coloco-o como um Romeu não encantado. 

Um drink sempre lhe cai bem nas sextas-feiras. Ou até numa terça-feira entediada. Seu senso de humor é impecável. Não se trata de um palhaço fugitivo de um circo, nem um comediante de stand-up, mas me parece suficientemente engraçado para quebrar qualquer monotonia. Dylan é criativo. Com tudo. Gosta de animais, - embora isso não me venha ao caso - especialmente cães dóceis, grandes e bonitos. Sabe cozinhar. Mas só se arrisca nos pratos diferentes. Nada de arroz, feijão, bife e batata frita. Opta pelo molho branco italiano com um toque só seu e um vinho seco pra acompanhar. De sobremesa: café. 

Dylan descomplica o mundo. Consegue expressar em poucas palavras o que em texto muitas vezes não se consegue; descomplica o que a gente supercomplica. Antes de esquentar a sua cabeça com problemas solucionáveis, pega os impossíveis e transforma em tramas para futuros textos ou livros. "Tudo se resolve. Sempre se resolve." É surpreendente a sua leveza ao dedilhar as cordas do violão, sua paixão pela música e seu refinamento nos gostos. 'Tira' qualquer melodia e transforma tudo em uma bela canção. 

Dylan é extremamente inteligente. Aprendeu com a vida e com dedicação. Como dito antes, seu forte é a literatura, mas sabe um pouco de tudo. Fascinado pela história do Brasil, ele sempre tem um pouco a ensinar e a recordar. Não sabe tudo. Nem acha que sabe. É honesto, gentil, humilde e discreto, sempre disposto a aprender e a errar. É carinhoso e curioso. E nunca deixa uma surpresa passar despercebida, se estiver ao seu alcance. Um SMS de madrugada, um alô na fila do banco, um livro sem pretensão ou um "vim te dar um abraço pra melhorar nosso dia". 

Tem estilo. E mesmo que não tivesse, ele faria o seu próprio. Dylan se traduz no amor. Tem suas manias, porque se não tivesse não seria tão apaixonante. No sol forte, ao invés de fechar um pouco os olhos, levanta uma sobrancelha. E fica lindo. Milimetricamente perfeccionista, detalhista e organizado na sua própria bagunça. "- Eu sou uma bagunça. - Eu adoro a sua bagunça."  Livros sempre no lugar, organizados por uma ordem de preferência. 

E embora este pareça um texto (ou um homem) tão individualista, Dylan é apaixonado pelas pessoas. Ele ama intensamente e com todo seu coração. Por isso sofre muito e escreve muito. Suas desilusões acabam rendendo bons textos. Mas Dylan tem sua Ruby Sparks. Real. E eu termino dizendo que não sei quem tem mais sorte: Dylan por fazer alguém feliz, ou Ruby que o tem como fonte de alegria. 

Dani Fechine

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