17 outubro 2013

Sensibilidade a qualquer não

Sensibilidade cansa. Cansa a cabeça, os olhos. Seca-te as lágrimas. Esgota-te a dor. Enche-te de saudade, de vontade de amor, de vontade de carinho. Enche-te de solidão. Pede abraço, cafuné, “tudo vai ficar bem”, “não fica assim”, “estou com você”. Desespera-se em busca de um colo, faz um melodrama incrível e no final te joga num quarto escuro, numa cama ainda desarrumada para encharcar o travesseiro novo. Sensibilidade embrulha-te o estômago. Palavras pulam da boca como se você tivesse exagerado nos drinks; revela coisas que, sóbria de emotividade, jamais revelaria. Perde a fome, a sede e o calor. Faz frio agora. Seu cabelo ta molhado, sua roupa está longa e velha – e aconchegante – e tudo que você pede é um pouco de chuva, um chocolate quente, um livro repetido, uma carta antiga. Tudo que você pede é que alguém note essa sua trama dramática e te leve pra casa. Que te retire dessa rua fria, transforme sua terça-feira nebulosa numa sexta-feira a noite. Você precisa de alguém com tempo. Com vontade. Com coragem de ter você ao lado. 

Sensibilidade te enoja. Ardem os olhos, molha o rosto e você sente o sabor salgado de uma lágrima descendo como cachoeira. Qualquer “tchau” é motivo pra baixar a cabeça e puxar um lenço. Se despedida sempre te acabou, é dessa vez que ela te mata. O passado volta em questão de segundos. Vai até o espelho e “que situação deplorável”. Deprimente. Enche a taça de vinho. Desce rasgando. Você não come nada. Só bebe. E bebe o que tiver. Bebe água, ardente ou não, suco sem açúcar, vodka pura, conhaque e por último um café bem quente e forte pra voltar à vida. Pratos limpos, copos sujos, e uma vida inteira precisando ser lavada. 

Sensibilidade te deixa um lixo – reciclável. Incha-te o rosto, os olhos. Qualquer atenção não dada é uma nova paranoia. Qualquer “adeus” é um “eu não te amo mais”.  E qualquer texto é um novo fundo de poço pra se conhecer. Enche-te de sono. Mas dormir te dará dores de cabeça terríveis e o dia está só começando, você não quer que piore. Tenta escrever. Escrever para não implodir. Para esvair. Nada de interessante, nada de construtivo, nada que alguém, além de você, iria gostar de ler. Desapega do Word. Um filme talvez solucione. Liga a TV. Todos os filmes com contraindicações: se for sensível, não assista. Então você se afunda novamente no sofá. Pernas pra cima. Celular na mão. Nenhum torpedo, nenhuma ligação perdida. A única perdida é você. 

Sensibilidade é fundo de poço. É como assistir Zorra Total num sábado à noite, ou parar para ver o Domingão do Faustão. Sensibilidade é menos que o lixo que você coloca na rua todos os dias, é menos que o papel rabiscado que você joga no chão, é menos que você que tá lavando o chão com o reservatório esgotável de lágrimas. Foge. Foge dessa vida de eu-não-aguento-mais-essa-saudade. Procura um esconderijo. Abriga-se, protege-se. Sensibilidade, emotividade é o câncer da razão. Esfria-se. Congela-se. E não liga pros boatos, pras fofocas. Quem mais importa nesse mundo é você mesmo. Controle-se. Reaja. Levanta do sofá. Larga a panela de brigadeiro. Tira a calça moletom. Lava o rosto, passa um pó, um rímel e um batom escandalosamente vermelho. Põe aquele short jeans meio rasgado, meio retro, meio vintage. Se joga na camiseta branca e no tênis bordô. Vai ser feliz, garota, e não volta não. 

Dani Fechine

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