08 outubro 2013

"Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Dias como esse merecem textos de homenagem, de agradecimento e de paz. Merecem um abraço apertado, um beijo estalado no rosto e um desejo de vida longa, de vida eterna se puder. Mas escrever sobre a saudade não é tão fácil assim. Um dia de "parabéns" de repente torna-se um dia de tristeza, de lembrança e de lágrimas escorrendo pelo rosto. Hoje não vai ter o bolo com salgados do dia 8 de outubro e domingo não vai acontecer um almoço em família. Mas olha, olha que incrível, hoje é primavera, as flores sorriem em todos os lugares, o céu acordou azul turquesa como nunca e o sol brilha nos chamando pra sorrir. Tudo ficará bem, embora saudade não tenha cura. Não tem remédio. Todo dia nosso coração se aperta, todo dia é uma lembrança do que foi vivido ontem.

Todo dia eu espero no portão aquela frase de cuidado: "Vá com Deus, e pelo canto do muro." Todo dia eu espero você dormir na hora da novela e acordar perguntando o que aconteceu. Eu passo a tarde querendo que você acorde e sente-se comigo pra comer um lanche, pra falar da vida alheia, pra sentir o vento bater no nosso rosto sentadas no sofá da sala. Eu me arrumo pra sair a noite e fico sentada na cadeira da mesa de jantar, esperando olhar pro lado e te ver sentada na poltrona me dizendo que estou linda e que com certeza hoje eu encontro um namorado. E no outro dia eu acordo sem ouvir alguém dizer: "Eu nem ouvi quando essa menina chegou."


Saudade não é dor. É aperto. É falta. Ausência. Carinho adormecido. É uma lembrança boa de um tempo que a gente nunca espera que acabe. De alguém que a gente nunca espera que se vá. De um abraço que a gente deseja todos os dias. Sabe, saudade é acordar e não saber por quê. É dormir e não saber pra que. É andar sem saber pra onde. Correr e não saber parar. Saudade é cantar e não ter voz. É chorar e não cair lágrimas. É sorrir e não mostrar os dentes. É cair e não se levantar. Saudade é morrer e continuar vivendo. É sentir o coração menor a cada dia. É andar calçado e sentir o chão quente. É viver de amor e continuar morrendo. 


Em datas como a de hoje, simplesmente não basta estar feliz - e ser feliz é absolutamente difícil. Mas é preciso agradecer, seja lá a quem for. Agradecer a presença insubstituível que esse alguém tornou na sua vida, agradecer o carinho que foi dado, o amor recebido, as lágrimas trocadas, as risadas compartilhadas, os brindes realizados e toda a paz, tranquilidade e harmonia que trouxe pra você. Não é porque as pessoas viram estrelas no céu - e essa é a melhor forma de acreditar - que elas não estão mais conosco. A presença é forte. E é por isso, é por sentir uma proximidade tão absurda que a saudade acaba doendo um pouco. Dói um pouco todo dia. Dói no coração e dói na alma. Dói o corpo inteiro, a cabeça, as mãos. Dói porque a saudade não avisa quando vai chegar. Não manda um telegrama, uma carta ou um SMS. Ela chega, não bate na porta, não tira os sapatos, coloca os pés no sofá e nem sequer pergunta se pode ficar pro almoço. Quando vê já está com garfo e faca nas mãos.

A saudade vem e escancara tua vida. Muda teu instinto, tua solidão, tua sensibilidade, teu aroma. Vira-te ao avesso e não te ensina a voltar ao normal. Saudade muda tua vida e não espera que você se adapte. Pode parecer fácil conviver com um sentimento de carinho e de memória, mas a consequência desse amor é a dor. Uma dor que começa no átrio direito e percorre todas as veias e artérias, e quando não cabe mais, o coração explode. E então a saudade escorre pelos olhos. O coração explode todo dia. E se deixo bem explicado ou não, fica aqui a minha lágrima de saudade e o meu eterno amor por quem ajudou a me criar. Mas ela era um anjo. E os anjos não pertencem a Terra. Feliz Aniversário!


Dani Fechine

2 comentários:

  1. Que emoção ao ler este texto. Fascinei.

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  2. Obs.: Foi uma ótima escolha o trecho da música OTM para ser o titulo.

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)