29 agosto 2011

Vinte e nove (29)

Hoje é dia 29. Sim, um dia importante. Seria. Hoje eu lembrei de você mais do que ontem. Eu lembrei que você poderia achar que eu ficaria com raiva se a gente não olhasse um pro outro, porque 'minha nossa, hoje a gente completaria X meses'. Você estava tão errado em pensar isso. Hoje eu abri aquela caixa que já foi nossa e hoje ela é apenas minha, hoje ela é apenas uma fonte de recordação. E será sempre, infelizmente. Sabe quando você disse que a jogaria pela janela? Você me disse isso ontem, brincando, me fazendo lembrar da fez que a mostrei pra você. Se você jogasse seria tão mais fácil. Aliás, se eu jogasse seria mil vezes mais fácil. Mas não. É como alguém muito importante me disse uma vez: "São tantos anos que a gente tem até pena de deixar pra trás." E ela vai ficar aqui guardadinha, juntamente com as outras caixas. Sinta-se privilegiado: Você é o único que tem uma caixa exclusiva. Ficará ali pra sempre, como aquela almofada que durmo todas as noites. Ela ficará guardada juntamente com as lembranças que eu não posso, nem querendo, jogar pela janela. Ficará guardada como ficam as brincadeiras que você faz, as lembranças que involuntariamente fazemos um ao outro. É muito tempo de convívio, e tem momento que eu percebo que já vivemos muita coisa juntos. Eu percebo não, eu tenho completa certeza disso. Não sei se é só comigo, não sei se sou a única, mas quando alguém me conta uma história ou alguma notícia, quase sempre me vem a mente: 'Fulano já me contou isso uma vez.' 'Ah, isso é a cara de Fulano.' 'Fulano fazia assim, assim e assado.' É complicado jogar isso tudo pela janela, quando o mundo inteiro resolve comprar fechaduras. É complicadíssimo quando alguém quer que você siga esquecendo, siga olhando para o que ele está fazendo e não para o que você deveria fazer. É difícil quando alguém resolve te ajudar, só que acaba te machucando, mesmo sem saber. É bastante difícil, nessa situação, ouvir certas coisas, certas notícias. Sabe o que é fácil e difícil ao mesmo tempo? Ver você sorrir com nossas próprias brincadeiras, nossas encrencas. É muito fácil mas muito difícil também te ver ali parado, eu sentada ao lado e não poder fazer exatamente nada, além de sentir saudades de te abraçar naquele momento. É, olhando bem não tem nada de fácil nisso. É estranho sair com você novamente e sentar no banco da frente, é muito estranho mesmo. E mais estranho ainda é me despedir de você com um chutinho no pé, dizendo: 'Até amanhã.' É muito bom ainda está nos mesmos lugares que você. É ruim também, confesso. Mas eu te peço que nunca se afaste. Eu lembro que você me fez uma promessa. Não a quebre, por favor. Perca essa mania de ir embora toda vez. E hoje, nesse dia 29, eu me lembrei de você de uma forma diferente. Eu me lembrei com uma saudade diferente dos outros dias. Me lembrei que não podia pegar o celular e te escrever algo. Mas que ironia, porque eu venho aqui e te escrevo isso tudo. Não se engane tanto, tenho esse pedido pra te fazer. Procura, ao menos dessa vez, descobrir respostas para sua vida. Procure saber o que quer. Ontem, numa conversa muita íntima com Deus, Ele me disse o que eu deveria fazer. Ele me disse pra seguir e esperar o que viesse a acontecer. Eu não sei, realmente, mais nada que poderá acontecer amanhã ou depois. Eu sei que eu posso me decepcionar, sei que eu posso também nunca mais tirar um sorriso do meu rosto. Ontem, Deus me fez chorar de alívio. E de saudade. Uma saudade dos mil anos que passamos juntos e do seu abraço em principal. Mas agora, hoje, guarda isso, eu amo demais você. E toma esse texto, o único lugar seguro e eterno pra gente.


Dani Fechine

Um comentário:

"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)