Não foi a sua
aparência meio destrambelhada, nem essa sua voz que ecoou dentro do cinema na
fila da frente. Não foi o fato de você ter pisado na barra do meu vestido longo
– o que me fez perceber que eles não precisam ser tão longos assim. Não foi
(muito menos) esse teu jeito confortável, digamos assim, de se vestir. Foi o
sorriso que você me deu achando que eu estava tão apaixonado quanto você por
todas aquelas mentiras ficcionais do filme que a tela produzia. Você sorriu pra
mim como se eu entendesse esse seu linguajar expressivo. Como se eu te
conhecesse. Como se aquele lugar vazio ao seu lado fosse meu.
Não. Eu não
amo filmes de ficção. Fico mais com as comédias românticas baseadas em fatos
reais. Mas estava ali, porque eu até gosto um pouco de mentiras que são de
mentiras. E uma coisa que você não sabe é que eu guardei aquele bilhete de
entrada, porque nunca alguém havia sorrido daquela forma sem que eu pedisse ou ajudasse
a fazê-lo. Foi o seu olhar sincero, achando que a gente se parecia em alguma
coisa. Foi essa simplicidade ímpar que iluminava a sala. Pareceu-me amor. Mas
era quase. Com certeza, com tanta bagagem de ficção científica, você não
acreditava em amor a primeira vista, muito menos em destino. Mas eu, com meus
romances e minhas histórias reais, estava esperando um cavalheiro (não um
príncipe) descer de seu cavalo branco e pedir a minha mão. Você poderia ser
esse cavalheiro. E poderia vir a pé mesmo, até gosto de caminhar um pouco.
Era uma
espécie de empatia, de atração dos campos magnéticas ou atração cósmica. Era
quase amor. Mas havia um pouco mais de mistério, curiosidade de desvendar o
outro. Poderia, inclusive, ser apenas isso. Mas não. Olhares não se cruzam
dessa forma e sorrisos não são compartilhados com frequência nessa sintonia.
Poderia ser cuidado. Pressentimento. Intuição. Uma forma (meio complicada) de
se comunicar. E tinha tantas poltronas vazias, porque tão distante? Não. Não havia
de ser nada. Mas era. E não foi aquele filme chato que me fez pensar tanto. Aquelas lutas mais mentirosas do que ex-namorado. Aquela ficção fajuta. Foi a realidade que
acontecia em frente à tela, que por sinal até se assemelhava a alguns dos
romances que já li.
Foi por
querer tanto que a sua sinceridade escapulisse, foi por querer tanto que fosse
carinho (ou amor), que eu saí da sala antes das letrinhas finais. Saí como
alguém que recebe uma ligação de emergência. Mas sem a ligação. Era urgente
mesmo. Muito. Era amor. Quer mais urgência que isso? Fugi, corri, procurei o
local mais escondido daquele cinema, porque amor, moço, é coisa séria, e no
mínimo dá um medo tremendo. Deixei a sala antes das palmas, afinal, eu sabia
que você iria esperar aquela cena depois dos créditos. E como toda mulher realista
eu sabia que nenhum cavalheiro de armadura viria me seguir. Dito e feito.
Nenhum cavalheiro de armadura resolveu me surpreender com suas “frases feitas e
de efeitos” de contos de fadas. Mas você sim. E não adiantava mais fugir.
Quando o coração da gente acelera, já era. Ou morre ou se entrega. E com uma
vida tão longa pela frente, era melhor se entregar. Mas antes que eu
falasse que era amor e que o seu sorriso
se encaixava no meu, você não pestanejou: – Moça, é amor sim. Eu percebi quando eu te vi
saindo com esse ar de desespero, com esse jeito de quem não quer sentir o frio
na barriga novamente e com essa feição de quem sabe que se é amor, não adianta
fugir. Moça, eu sei que é amor. O filme ainda não acabou, os créditos ainda não
subiram e consequentemente a cena final ainda não apareceu. Mas eu vim aqui te
entregar o livro que você deixou cair e te dizer que eu larguei os momentos
finais do último filme da trilogia pra te dizer que a poltrona vazia estava sim
reservada pra você.
Dani Fechine
Muito talentosa! Parabéns ♥
ResponderExcluirMuito obrigada!
ExcluirSensacional!
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