14 março 2011

Parabéns, PAI

Hoje é o seu aniversário, pai. E em outros tempos eu estaria na sua casa comemorando mais um ano de vida. Estariamos felizes, talvez jantando como uma família. Confesso que não era assim que eu imaginava uma família, mas é assim que ela é agora. Confesso também que sinto falta, apesar dos apesares, das brincadeiras, das broncas e das nossas aventuras, pai. Sinto falta do seu abraço confortante, de dormir na sua cama, de ir à uma locadora e escolher seus filmes de guerra e os meus de desenhos animados. Tenho saudades das idas a praia, dos pratos de batata frita e dos copos de refrigerante. Saudades ainda mais de quanto eu chorava de saudade. Um passado que virou presente. Saudades de ir para SUA casa e correr com medo dos cachorros que vinham a me cercar. Saudade dos banhos de piscina até tarde, de dormir ao seu lado de tão infadada que ficava. Saudade de ouvir você roncar tão alto, a ponto de acordar alguém. Sinto falta de chegar na sua casa, em dia de páscoa, e procurar em todos os lugares o meu ovo de chocolate, e no fim das contas tudo acabava em festa. Saudades da sua assiduidade, em resumo. Saudade de ter o gostinho de fazer com o maior carinho o seu presente, na escola. Saudade de tantas coisas, que chego a não me lembrar de todas.
Mas mesmo assim, com todos os nossos problemas, obrigada por ser MEU PAI. E hoje, com lágrimas nos olhos, eu escrevo pra você esse texto como presente. Talvez como agradeciemento e como felicitações. Mesmo com todos os acontecimentos e todas as nossas falhas, ainda somos pai e filha, e ainda queremos o bem um do outro. Eu te desejo, além de toda a felicidade do mundo, uma benção enorme de Deus. Que Ele saiba iluminar o seu caminho, a sua vida, a sua alma e o seu coração. E saiba tocá-lo. Que eu possa escrever mais textos pra você, e que isso seja durante muito tempo. Eu não quero te perder jamais. Mas eu não consigo terminar de escrever. A minha garganta está se fechando, pai, e os olhos já não suportam mais guardar as lágrimas. Mas não posso deixar com que elas caiam. Então, meu herói, FELIZ ANIVERSÁRIO. 41 anos de pura paz pra você. Eu te amo ontem, hoje e será pra sempre.


Dani Fechine

3 comentários:

  1. Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias, de igual maneira. Crescem de repente. Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura. Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do maternal? A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça ! Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e cabelos longos, soltos. Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração... incômodas mochilas da moda nos ombros! Ali estamos com os cabelos esbranquiçados. Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos que não repitam. Há um período em que os pais ficam um pouco órfãos dos próprios filhos. Não os pegaremos nas portas das discotecas e das festas. Passou o tempo do balé, da natação, do inglês ou do judô. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvirmos sua alma respirando conversas e confidências sobre os lençóis da infância e os cobertores daquele quarto cheio de adesivos, agendas coloridas e discos ensurdecedores. Não os levamos suficientemente ao Playcenter, ao shopping, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado. Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto. No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amiguinhos. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chiclete e cantorias sem fim. Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados. Os pais ficaram isolados dos filhos, tinham a solidão que sempre desejaram, mas , de repente, morriam de saudades daquelas criaturas. Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito (nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar!), para que eles acertem nas escolhas em busca da felicidade. E que a conquistem de modo mais completo possível. O jeito é esperar... qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam. É isso aí...mas para mim vcs nunca crescerão, serão sempre aquelas coisinhas miúdas em que embalava nas redes e que me transformava no palhaço nesse grande e imenso palco da vida, onde a arte e a felicidade de ser pai jamais morrerá. Amo vc minha Galega linda. Teu Pai...Antonio Neto.

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  2. Ai, Dani! Que coisa mais linda! Fiquei emocionada tbm!

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  3. Caramba Dani! Adorei o post, de verdade! E o comentario também!
    Vocês escrevem muito bem! E boa caminhada na vida ;) bj, Mari

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)